quarta-feira, 28 de abril de 2010

Quando as Palavras são Supérfluas


Às vezes dou por mim a lembrar da minha irmã Adriana. Esse "às vezes" são todos os dias - de manhã, ao entadecer ou antes de dormir... Sempre tenho aquela fuga diária, já até me habituei, já faz parte de mim. A 5 anos, 4 meses e 9 dias, eu perdia minha querida e amada, companheira de todas as horas, a minha irmã caçula Adriana. Ainda me lembro a sensação terrível de receber aquela notícia num fim de tarde de um domingo quente de dezembro, já era quase natal. Foi um soco no peito, uma dor que ainda agora insiste em aparecer. Vez ou outra, vem uma lágrima no canto do olho, uma lembrança que se perde no ar... Foi uma luta muito grande contra o Lúpus, contra o tempo, contra as dores, contra a morte... até que um dia aconteceu o inevitável e ficou a saudade e a dor, acalentada pela certeza de que não ficamos a dever nada uma a outra.


Resolvi falar sobre isso, porque hoje de manhã lembrei da primeira vez, que meu pai presenciou um momento frágil depois de eu já ser uma mulher adulta. Eu estava no meu quarto arrumando as coisinhas dela e de repente, eu vi que ele estava à porta, observando e talvez, analisando, qual a melhor forma de minorar aquele sofrimento. Então ele se aproximou e eu disse:

"- Pai, o que eu vou fazer agora - e me desmanchei em lágrimas copiosas e sentidas, do jeito que, muito raramente, alguém é capaz de presenciar vindo da minha pessoa. Meu Pai, na sua humildade peculiar, disse:


"- Filha, tudo vai ficar bem. Você vai superar isso e me deu um abraço daqueles repletos de amor, carinho e que as palavras não podem substituir. Foi reconfortante e consolador.

Neste capítulo de perdas na minha vida - que por acaso foram muitas, umas perto das outras, sem que eu tivesse tempo para recuperar minha alma e meu próprio corpo físico -, aconteceram alguns fatos que realmente me mostraram o quanto as palavras muitas vezes são supérfluas. Eu sei que é meio "clichê", mas não há outra forma de dizer isso.



Quantas vezes você encontra um amigo ou uma pessoa qualquer, numa situação de perda, de dor e não sabe o que dizer, como se expressar, como amparar? E eu, digo que, como alguém que já passou por dores imensuráveis, digo: Apenas mostre a sua presença, dê um abraço - de verdade, sem tapinhas nas costas -, abrace com amor e força. Os braços acolhedores valem mais do que qualquer expressão verbal.

terça-feira, 30 de março de 2010


Estou pensando na possibilidade de REALMENTE começar a escrever :o) E também aprender a mexer nos mecanismos que ajudam a deixar um blog lindo, como tantos outros que venho acompanhando. Um grande beijo na Alma!

domingo, 29 de março de 2009

PRIMAVERA... Estação das Flores... dos Amores... e dos Perfumes...


PRIMAVERA
(Cecília Meireles)
A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.
Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques de rododentros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.
Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.
Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.
Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvi­dos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.
Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.
Texto do livro: "Cecília Meireles - Obra em Prosa - Volume 1", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1998.

SABIÁ E O URUBU (MONTEIRO LOBATO)


Era à tardinha. Morria o sol no horizonte enquanto as sombras se alongavam na terra.Um sabiá cantava e tão lindo cantava que até as laranjeiras pareciam absortas a escutar. Estorce-se de inveja o urubu, e queixa-se:

- Mal abre o bico este passarinho e o mundo se enleva. Eu, entretanto, sou um espantalho de que todos fogem com repugnância... Se ele chega, tudo se alegra. Se me aproximo, recuam... Ele, dizem, traz felicidade; eu mau agouro... A natureza foi injusta e cruel para comigo. Mas está em mim corrigir a natureza; mato-o, e desse modo, me livro da raiva que seus gorjeios me provocam. Pensando assim, aproximou-se o urubu do cantor que, ao vê-lo, armou as asas para fuga.

- Não tenhas medo, amigo! Vim para mais perto, a fim de melhor gozar as delícias do teu canto. Julgas acaso que por ser urubu não dou valor à obras de arte? Vamos lá, canta! Canta ao pé de mim aquela formosa melodia com que há pouco extasiavas a natureza.O ingênuo sabiá deu crédito àqueles mentirosos grasnos e permitiu que lhe pousasse ao lado o traiçoeiro urubu. Mas este, logo que pilha a cantar ao alcance, ferra-lhe tamanha bicada que o derriba, moribundo. Arquejante, com os olhos já envidrados, geme o passarinho:

- Que mal te fiz para merecer tanta ferocidade?

- Que mal me fizeste? É boa! Cantaste! ... Cantaste divinamente bem, como nunca urubu nenhum há de cantar.

Ter talento: eis o teu crime. A inveja não admite o mérito.
http://lh5.ggpht.com/_xOeA57y6rsA/SUPjX_j-ChI/AAAAAAAAGDE/JR758IQmhJ4/7035.gif.jpg

terça-feira, 28 de agosto de 2007

ola a todos